″Pus joelheiras, porque o padre me disse que Nossa Senhora não queria esses sacrifícios″

2022-04-19 09:33:39 By : Ms. sheena wang

O grupo que chegou a Fátima vindo de Chaves e Mirandela

Foto: Nuno Brites / Global Imagens

Fernanda Ribas, 40 anos, vai a Fátima em agosto "há pelo menos 20 anos". Emigrante em França, onde trabalha nas limpezas, já pensou ir em peregrinação a pé, mas teme não conseguir, tendo em conta que são cerca de 300 quilómetros desde Mirandela. Mas faz questão de fazer sempre a passadeira do Santuário de joelhos.

Nos primeiros anos, Fernanda diz que não usava qualquer proteção. "Era muito doloroso e ficava cheia de sangue. Depois, passei a pôr joelheiras, porque o padre me disse que Nossa Senhora não queria esses sacrifícios", explica ao JN. Faz o percurso a rezar o terço e pede à Santa que deixe voltar "muitos anos".

Depois de ontem percorrer a passadeira e dar três voltas à imagem de Nossa Senhora de Fátima, na Capelinha das Aparições, Fernanda diz que se sente em paz. "É como se um peso me saísse de cima. Sinto-me bem", afirma. A primeira vez que fez a passadeira de joelhos levou a filha ao colo, para pagar uma promessa que fez quando estava grávida e esteve em risco de perder a bebé.

Católico, mas menos fervoroso, o marido, Vítor Ribas, 49 anos, conta que só não foram ao Santuário no ano passado, devido à pandemia. Trabalhador nas obras, encontra-se de baixa médica, porque teve um acidente. Tal como a Fernanda, ir a Fátima fá-lo sentir-se bem. "Também gosto disto", assegura.

O casal de Mirandela, que viajou na companhia dos dois filhos, estava acompanhado por Maria e Mário Nascimento, emigrantes em França há 30 anos, que também se deslocaram de carro desde Chaves. "Fui queimar velas. É um hábito que tenho quando venho aqui. Vou pedir a Nossa Senhora que me guarde", explica Mário.

Trabalhador nas vinhas, Mário, 56 anos, sente dificuldade em traduzir por palavras o que sente quando está no Santuário. "Tenho fé em Fátima e na Nossa Senhora", afirma. Apesar de não ter por hábito frequentar a igreja, vai sempre à peregrinação dos emigrantes, à exceção do ano passado.

"Estive aqui há dois anos e estava cheio. Este ano, está menos gente. As pessoas devem ter medo da pandemia", acredita o emigrante de Chaves. Essa é também a explicação avançada por Fernanda Ribas, para a pouca afluência de peregrinos no recinto, durante a tarde de ontem.

À hora da procissão das velas, que teve ontem início às 21.30 horas, o número de fiéis aumentou, pelo que 70% do recinto ficou preenchido, de acordo com o Santuário de Fátima. Na homilia de celebração da palavra, o cardeal Jean-Claude Hollerich elogiou as mulheres de nacionalidade portuguesa, cabo-verdiana e brasileira, residentes no Luxemburgo, que caracterizou como "fortes" e cujo caráter comparou ao da Virgem Maria.

O arcebispo do Luxemburgo destacou ainda a importância da partilha. "Como cristãos, não somos passivos neste mundo. O mundo está-nos confiado pelo Deus criador, e nós devemos fazê-lo frutificar", disse. "Isso pode tornar-se um compromisso para com a ecologia, o compromisso por um mundo mais justo, por um mundo mais fraterno, com vista a "um nós cada vez maior" [tema da peregrinação deste ano]."

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